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Entrevista sobre equilíbrio emocional em tempos de crise

O momento na saúde pública com a disseminação do COVID – 19 é delicado. Desde de que identificado o poder de disseminação do vírus, e a gravidade da evolução da doença em alguns indivíduos, várias transformações ocorreram no modo dos relacionamentos, do trabalho, da locomoção, de higiene, tudo para tentar controlar os impactos negativos dessa pandemia. Esta nova configuração veio acompanhada por inevitáveis sensações de medo e ansiedade. As sensações são, em certa medida, naturais e compreensíveis pois é uma situação desconhecida, que leva a vulnerabilidades e incertezas.

O isolamento social mostrou-se a principal ferramenta para reduzir o número de casos - e é importante que ele seja adotado pelos que podem, mas isso também não vem sem um custo sobre a saúde mental. Contudo, pode-se amenizar a ansiedade e o medo diante da situação, a partir do desenvolvimento de posturas e hábitos, tentando ressignificar a atual vivência.

Entrevistamos a Psicóloga Luciana Norat Coelho, que atua na Coordenadoria de Apoio Psicossocial no Trabalho, da Diretoria de Saúde e Qualidade de Vida da Progep, para falar um pouco sobre o bem-estar durante este período da pandemia, as iniciativas que ajudam, além de outras dicas e orientações.

1. Quais os desafios dessa fase?

É importante ter em mente que estamos vivendo um momento de crise, e que apesar de ser um momento difícil, ele não é infinito e vai passar. Diante do inevitável, faz-se necessário encarar o medo e buscar ressignificar as vivências, por meio do cuidar de si. O grande desafio de tempos difíceis é encontrar uma forma de viver reconhecendo e lidando com a angústia, sem ignorá-la ou deixar que ela nos domine.

2. Qual a receita para o bem-estar emocional nessa época?

É importante que se esclareça que não há certo ou errado quando pensamos em como um indivíduo pode ou deve lidar com uma situação de angústia e dessa forma não existe uma receita ou fórmula única de alívio ou de bem-estar emocional. As subjetividades são singulares e os sujeitos são diferentes entre si. Nesse sentido, é importante um exercício de autoconhecimento e introspecção a fim de refletir acerca de qual ação e postura é mais compatível com a sua personalidade e estilo.

3. O que fazer para ajudar?

Realizar atividades que goste ou aprender novas habilidades podem ser importantes iniciativas. Seria buscar por atividades que não sejam exatamente produtivas, mas sim restaurativas. Atividades culturais, por exemplo, trazem entretenimento e diversidade de assuntos e podem aliviar a carga imposta pelo isolamento. Desligue um pouco o celular e a televisão e realize alguma atividade que possa usufruir do tempo de maneira proveitosa, como ler um livro, ouvir boas músicas, assistir filmes, desenhar, organizar a casa, experimentar uma nova receita ou descobrir uma nova habilidade. Existem ainda iniciativas online disponibilizadas temporariamente de forma gratuita, como cursos, a possibilidade de se visitar virtualmente museus por meio do Google Arts and Culture, dentre outras oportunidades.

Ao mesmo tempo em que falo do valor em realizar algumas atividades ao longo do dia, é importante ficar atento quanto à cobrança de superprodutividade nesse momento. A ideia de se encher de tarefas, fazer todos os cursos que não fez, ler todos os livros que não leu, pode ser um convite à frustração e mesmo levar ao desencadeamento de mais ansiedade. Talvez, para algumas pessoas, ser “superprodutivo” funcione e dê uma sensação de foco e controle frente às incertezas que estão sendo vivenciadas, mas isso não é uma regra para todos. É importante entender que uma possível dificuldade em se concentrar e produzir neste momento, não é uma falha e não se cobrar nem se culpabilizar por isso. Não estamos vivenciando uma continuação do que acontecia antes e não necessariamente vamos manter o mesmo ritmo. É importante não buscar um ideal de superprodutividade, que talvez não seja possível nesse momento.

4. Qual o impacto que as informações possuem no agravamento das sensações?

Os meios de comunicação possibilitam o acesso a esclarecimentos e tem importância fundamental neste cenário. E é importante que se tenha acesso regulares a canais confiáveis de informação . Porém, convém moderação na busca por novas informações. É natural que se tente contornar a ansiedade buscando constantemente novas notícias sobre a situação, mas esse hábito pode se tornar prejudicial e provocar um aumento na ansiedade, pois o turbilhão de informações pode levar a um estado mental de constante alerta, dificultando o relaxamento e a capacidade de discernimento. Uma sugestão é escolher um ou dois telejornais e não passar o dia todo nas redes sociais. Outra ideia é estabelecer horários específicos ao longo do dia para checar as redes sociais.

5. E as pessoas que faziam algum tipo de acompanhamento? Como elas devem agir?

Em casos nos quais a pessoa já realizava um acompanhamento em saúde emocional, é importante que o tratamento não seja interrompido. Verifique com o profissional que lhe atende qual a melhor forma de manejo neste momento. Mesmo pessoas que não se encontram em algum tipo de acompanhamento também podem recorrer ao auxílio de um profissional nesse momento. Se a angústia aumentar muito e o trabalho subjetivo e as estratégias de cuidar de si ainda assim mostrarem-se insuficientes e ocorrer uma mobilização muito intensa, é importante considerar a procura por ajuda profissional. Nem todo sofrimento requer tratamento, mas um sofrimento não reconhecido ou negado pode evoluir para algo mais prejudicial.

Os servidores da UFPA e seus familiares podem buscar apoio e orientações psicossociais na Coordenadoria de Apoio Psicossocial no Trabalho (CAPT), por meio do Sagitta , buscando no catálogo de serviços da oferecidos pela Progep, ou através do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

No momento atual, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) autoriza a realização de consultas on-line por qualquer profissional da psicologia, sem a necessidade de prévio cadastro do profissional. Em caso de dificuldade na busca por profissional que realize o atendimento, o CFP disponibiliza contatos de psicólogos cadastrados e autorizados para isso (acesse mais informações aqui) .

Atendimentos on-line por psiquiatras também são permitidos pelo Conselho Federal de Medicina. A busca pela rede de atenção à saúde mental também pode aqui ser empregada. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) permanecem realizando atendimento à população, mas com algumas restrições. Procure o Centro que seja referência do seu bairro e de sua faixa etária.

6. Como reorganizar a rotina?

Aos que foram liberados da presença física nos espaços de trabalho, é importante tentar reorganizar a rotina e assim estipular uma hora para acordar, dormir, se alimentar, momentos de relaxar etc. Arrume um local para trabalhar que não seja sua cama e, se possível, que não seja o quarto. Para alguns, pode ser interessante tentar incluir na rotina um tempo para praticar algum tipo de exercício dentro de casa. Na internet, existem aplicativos e canais com diferentes modalidades de aulas, como alongamentos, yoga básica e exercícios aeróbicos. Procure um que esteja de acordo com seu estilo e preparo físico, respeitando os limites do seu corpo.

É importante também pontuar que é preciso cautela e ponderação quanto à ideia de manter uma rotina rigorosamente planejada e cheia de atividades a serem realizadas ao longo do dia. Talvez esse seja um método que não funcione para todos e isso pode se tornar mais uma cobrança a ter que dar conta em um momento tão atípico quanto este.

7. E como diminuir os impactos do isolamento social?

Nestes momentos de isolamento e restrições de convivência, é fundamental manter uma rede de apoio social, mantendo aproximação emocional apesar da distância física. Recursos como FaceTime, chamadas por vídeo do WhatsApp, e até simples ligações telefônicas são opções para amenizar as consequências do isolamento. Assim, durante este difícil período, aproveite para estreitar os laços com pessoas queridas, fazendo chamadas de vídeos com amigos e parentes que estão distantes, estabelecendo um senso de conexão.

Os idosos devem receber especial atenção, uma vez que sintomas associados a episódios depressivos são frequentes na terceira idade e o isolamento pode agravar o quadro. Evitar visita aos idosos não significa isolá-los, é importante a comunicação e constante interação com este grupo.

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